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abaixo

Medicamentos biológicos:
O que você precisa saber

RESUMO​

  • Biológicos atuam bloqueando uma parte específica da nossa imunidade, a parte que está hiperfuncionante causando autoimunidade.

  • Funcionam muito bem mas têm riscos como qualquer medicação, especialmente cansaço e vermelhidão no local da aplicação, mas também podem facilitar o acontecimento de infecções.

  • O acondicionamento do remédio, o seu transporte e a aplicação necessitam de cuidados específicos para que ele não seja destruído.

  • Os biológicos em comprimidos têm risco de infecção semelhante aos injetáveis, e atenção especial para Herpes zoster e tromboses.

  • Por isso, leia atentamente a lista de cuidados no texto, para manter o bom funcionamento do remédio e também para evitar complicações do uso dos biológicos.

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Biológicos: o que são, quais os riscos, e quais os cuidados com o remédio

Autor: Dr. Afonso G Schmidt
Atualizado em 16/09/22
Tempo leitura: 8 mins
​Índice
O que é o biológico?

Se você está usando ou irá iniciar o uso de um medicamento biológico para a sua doença reumática, escrevi aqui o que você PRECISA saber. Afinal, além do valor do remédio, a falta de cuidados pode levar à falha do medicamento ou até efeitos adversos.

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- O que é um medicamento biológico? -

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Nossa imunidade serve para eliminar seres invasores. Ela é extremamente complexa, com diversas células que conversam entre si através de substâncias que estas células lançam ao seu redor e no sangue. Essas substâncias usadas pelas células da imunidade para conversarem entre si são chamadas de citocinas. Elas são muitas para que a comunicação na imunidade seja precisa, para organizar a imunidade e daí combater corretamente todos os invasores que existem (são incontáveis!).

 

Os medicamentos biológicos, ou mais corretamente chamados de imunobiológicos, são medicamentos que bloqueiam especificamente uma ou algumas destas citocinas. Inclusive são divididos em grupos de acordo com o que eles bloqueiam: 

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  • os que bloqueiam o TNF (anti-TNF): adalimumabe (Humira), golimumabe (Simponi), etanercepte (Enbrel), certolizumabe (Cimzia), infliximabe (Remicade)

  • os que bloqueiam a IL-6 (anti-IL-6): tocilizumabe (Actemra)

  • os que bloqueiam o IL-17 (anti-IL-17): secuquinumabe (Cosentyx)

  • os que bloqueiam o IL-12/23 (anti-IL-12/23): ustequinumabe (Stelara)

  • entre outros exemplos.

    • OBS: os inibidores da JAK (Tofacitinibe/Xeljanz, Baricitinibe/Olumiant, Upadacitinibe/Rinvoq) são via oral e funcionam de maneira um pouco diferente, com seus benefícios, riscos e cuidados específicos descritos abaixo (ou clique aqui para ir direto)​

Biológicos funcionam bloqueando moléculas da imunidade (citocinas)

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Como os biológicos funcionam?

- Por que bloquear uma molécula da imunidade ajuda nas doenças autoimunes? -

 

Quando a imunidade erra e passa a acreditar que algo do nosso próprio corpo não é nosso, ele passa a atacar isto. É a imunidade acreditando que aquela molécula que é do seu corpo seria na verdade um invasor. E ela tentará eliminar essa sua molécula. Isto é o que chamamos de autoimunidade (imunidade atacando você mesmo)

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Nossa imunidade usará as citocinas para organizar o ataque contra o corpo da mesma forma que usa para atacar vírus ou bactérias. Nesse caso, bloquear a citocina certa significa dificultar a comunicação para este ataque, e assim tratar a autoimunidade.

        Resumindo, para tratar uma autoimunidade, bloqueamos uma pequena parte da imunidade. É assim que funciona o biológico"

Quais os riscos?

- Quais os riscos dos biológicos? -

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  1. Risco de infecção:

Os biológicos funcionam bloqueando moléculas da imunidade. São muitas as citocinas, e várias são usadas ao mesmo tempo para uma comunicação complexa e precisa entre as células da sua imunidade. Quando uma delas é bloqueada com o biológico, ainda sobram as outras para a comunicação. Por isso, o biológico não leva a uma profunda redução da imunidade, mas gera uma piora da imunidade mesmo que leve. Quem usa imunobiológico tem a imunidade um pouco mais fraca se comparado a alguém que não usa.

A maioria das infecções são leves, como resfriados ou faringites, mas eventualmente pode ocorrer pneumonia, erisipela (infecção da pele), zóster (cobreiro), ou reativação de tuberculose latente. 

Por isso é obrigatório realizar, antes de iniciar o remédio, sorologias para hepatites e HIV, e também avaliação de tuberculose atual ou prévia com raio-X de tórax e Mantoux (conhecido como PPD).

São necessários também maiores cuidados com infecções durante o uso do medicamento biológico (veja abaixo ou clique aqui para ver os cuidados a tomar enquanto está sob efeito do biológico).

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   2. Efeitos adversos do remédio:

Os mais comuns são felizmente leves.

  • Inflamação no local da injeção: pode haver uma pequena área levemente vermelha e que coça por 3 a 5 dias após a injeção, em até 10% dos pacientes. Não é infecção, é fugaz, quase todos os pacientes não se incomodam com isso, e não indica a suspensão do remédio.

  • Reações durante infusão intravenosa (no caso dos biológicos endovenosos): Podem ser leves, moderadas ou graves:

    • Reações leves como coceira de pele sem lesões aparentes, sensação de calor corporal, ou sensação gripal leve (cansaço) ocorrem em 3% das infusões. São tratadas com analgésicos ou antihistamínicos se for necessário.

    • Reações moderadas como alergias sem complicação ocorrem em aproximadamente 1% dos casos. Necessitam avaliação do médico plantonista e do reumatologista sobre manter ou não o remédio, mas não necessariamente obriga suspender o uso do biológico, podendo ser utilizado preparo pré-medicação.

    • Reações graves como alergias com risco de vida ocorrem em menos de 1% dos casos. Ou seja, é rara. De qualquer forma, obriga suspensão do remédio.

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Lembre-se que a infusão de biológicos na veia é feita em centros de  infusão, sempre com apoio de enfermeira e na presença de médico plantonista, preparados para atender qualquer intercorrência sua.

Quais cuidados devo ter para guardar e aplicar?

- Quais os cuidados devo ter com os biológicos? -

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Para entender os cuidados necessários com o manuseio do remédio, tenha em mente que o biológico é termolábil, ou seja, estraga se estiver na temperatura ambiente, pior ainda se calor. Ele tem que manter-se resfriado.

Também pode estragar caso seja excessivamente mexido. Ele não pode ser agitado.

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Cuidados com os biológicos

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1. NO TRANSPORTE

  • Transportar o remédio sempre dentro caixa ou bolsa térmicas, junto de blocos de gelo em gel congelados.

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  • Tenha pelo menos 4 blocos de gelo em gel (foto ao lado - podem ser encontrados em farmácias e mercados). Deixe estes blocos de gelo passarem pelo menos 8 horas no congelador. Na hora de transportar o remédio, deixe-o dentro da bolsa térmica, com as barras de gelo em gel ao redor do remédio.

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  • Fazer o transporte num só turno sempre que possível. Se não for possível (por exemplo, por ter que pegar o remédio em outra cidade), use mais blocos de gelo gel. Garanta que o produto não esquentará.
     

  • Não utilizar gelo comum (feito de água congelada) para o transporte. Além de durar menos tempo comparado ao gelo em gel, ainda pode derramar e entrar em contato com a seringa, potencialmente inutilizando o produto.

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  • Cuidado com excesso de movimento. A movimentação normal durante a caminhada ou dentro do veículo não traz problemas, mas não deixe o produto ou a bolsa térmica cair.

2. NO ARMAZENAMENTO

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  • Guardar toda a caixa do remédio na geladeira, ou seja, não precisa tirar a seringa da embalagem para guardar.
     

  • Manter na geladeira (nunca no congelador ou freezer), na prateleira do meio (não nas primeiras nem nas últimas prateleiras), deixando distância da comida.
     

  • Não manter o remédio na porta da geladeira, pois ocorre aquecimento importante toda vez que a porta é aberta, mesmo que pareça ser pouco, comprometendo a qualidade do remédio.
     

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  • Se faltar energia elétrica, pegue as barras de gelo em gel do freezer (enquanto estão geladas) e coloque junto do remédio na bolsa térmica, como se fosse transportar o remédio (como descrito no item 1 acima). Se o retorno da energia for demorar muito tempo (mais que 6 a 8h), tente contato com amigos ou parentes próximos que tenha energia e que possam guardar o remédio até retorno da energia na sua casa.

3. AO INJETAR O REMÉDIO

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  • Para reduzir dor ao aplicar, é interessante deixar o produto parado fora da geladeira por uns 2 a 3 minutos, na sombra, nunca no sol. Assim ele não fica tão gelado e dói menos ao injetar. 
     

  • Mas ATENÇÃO: JAMAIS esquente o remédio, seja em água morna, microondas, ou deixar no sol. Isso destrói o remédio, fazendo parecer que ele não está funcionando.

 

  • Limpar o local da pele em que realizará a injeção com algodão embebido em álcool 70%, esfregue 3 vezes o local. Isso evita entrada de germes no local, o que pode gerar infecção da pele. É bastante incomum acontecer, mas muito simples de evitar.

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  • Não chacoalhe a seringa do produto. O medicamento vai se quebrando e perdendo eficácia com movimentos bruscos.

 

  • Injete ao redor do umbigo, sempre trocando o local a cada injeção. Injetar no mesmo local sempre pode gerar um nódulo duro na gordura onde se aplica, que além de ser um pouco desconfortável, ainda reduz a absorção do remédio naquele local. Uma dica é dividir a área ao redor do umbigo em quatro: acima e abaixo do umbigo, direita e esquerda. Cada vez que usar o remédio, rotacione o local de aplicação. Veja na figura ao lado o esquema.

  • Não se preocupe, a agulha não é comprida o suficiente para entrar nos músculos abdominais, menos ainda para dentro do abdome. Por isso, sempre ponha a agulha do biológico inteira no abdome. Se você for muito magro(a), aí sim pergunte ao seu médico se há risco.

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  • É possível injetar em outros locais além do umbigo, mas veja com o reumatologista onde e como você deve aplicar nestes casos.

Vacinas em biol

4. ENQUANTO ESTÁ SOB EFEITO DO BIOLÓGICO

  • As vacinas de vírus inativados são todas indicadas a quem usa biológico. Mantenha sua carteira vacinal em dia, preferencialmente antes do início do remédio, pois as vacinas são mais eficazes fora do efeito do biológico.

  • Não tome vacinas de vírus vivo. E questione sempre se a vacina que está recebendo não é de vírus vivo. Há risco do vírus vivo da vacina causar infecção em você, por isso a importância dessa informação.

  • Tenha termômetro em casa e faça a medição da temperatura sempre que se achar febril ou caso tenha calafrios. Se estiver com febre (37,8ºC ou mais), procure avaliação médica no mesmo dia, seja com seu reumatologista ou em Pronto Atendimento caso ele não esteja disponível para o dia. Pode ser só uma virose passageira, mas pode ser uma infecção bacteriana mais séria. Lembre-se que o biológico reduz uma parte da imunidade, conforme escrito acima.

- Tem como saber se o biológico está estragado? -

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Caso não tenha seguido as orientações escritas acima, seja por descuido ou eventos fora do seu controle (por exemplo, caso falte luz e acabe aquecendo todos os alimentos da geladeira, além do remédio), saiba que NÃO EXISTE MÉTODO EFICAZ E PRÁTICO PARA SABER SE O REMÉDIO ESTÁ INTACTO. Se o remédio se quebra por estar mal acondicionado, geralmente ele não muda de cor, de aspecto, nem o que você sentirá ao aplicar. Por isso, o cuidado com o remédio é essencial, para garantir que o remédio funcione adequadamente, afinal é um remédio muito caro e não há como trocar uma vez que você já o retirou na farmácia de alto custo.

 

Se você acredita que houve algum problema com o seu remédio, seja no armazenamento ou aplicação, entre em contato com o seu médico reumatologista logo e relate a sua suspeita.

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Tem como saber se o remédio está estragado?

- E para os "biológicos" via oral, os cuidados e os riscos são os mesmos? -

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Os "biológicos" em comprimido, remédios mais recentes, funcionam de forma parecida aos injetáveis, inibindo uma molécula intracelular cujo nome é abreviado para JAK, por isso o nome desses remédios são inibidores da JAK.

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Nesta lista estão:

  • Tofacitinibe (Xeljanz)

  • Upadacitinibe (Rinvoq)

  • Baricitinibe (Olumiant)

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Os cuidados diferem muito em relação ao manuseio deles. Como são comprimidos, não há necessidade de manter dentro da geladeira nem transportar eles gelados. São necessários apenas os cuidados típicos para remédios em comprimidos como não deixar ao sol nem em ambiente muito úmido, o que é muito prático e já conhecido pelos demais remédios que tomamos em nosso dia a dia.

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Assim como os benefícios parecem ótimos, os riscos também devem ser levados em conta:

  1. O risco de infecções pela redução da imunidade é semelhante aos biológicos injetáveis, porém há um destaque para risco de herpes zoster (popular cobreiro). Por isso, manter em dia as vacinações é igualmente importante, incluindo neste caso a vacina do herpes zoster inativada. Importante: nestes remédios em comprimido também não se pode receber vacinas de vírus vivos - para mais informações, clique aqui e releia sobre isto.

  2. Esses comprimidos parecem trazer risco maior de tromboses, sendo especialmente importante manter exercícios físicos regulares, para normalizar esse risco.

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Em resumo, esses biológicos via oral são uma nova alternativa, com seus próprios riscos e benefícios, cabendo ao médico reumatologista em discussão com o paciente decidir se é uma boa opção de tratamento

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Cuidados e riscos dos biológicos em comprimidos

IMPORTANTE

Por ser uma medicação especial, o biológico tem seus riscos (assim como seus grandes benefícios) e deve ser acompanhado com avaliações e exames a cada poucos meses no reumatologista, que é médico especialista no uso destas medicações.

Dúvidas ou problemas com sua medicação, marque sua consulta conosco.​

IMPORTANTE

Referências bibliográficas:

  1. MURDACA, Giuseppe; SPANÒ, Francesca; CONTATORE, Miriam; GUASTALLA, Andrea; PENZA, Elena; MAGNANI, Ottavia; PUPPO, Francesco. Infection risk associated with anti-TNF-α agents: a review. Expert Opinion On Drug Safety, [S.L.], v. 14, n. 4, p. 571-582, 29 jan. 2015. Informa Healthcare. http://dx.doi.org/10.1517/14740338.2015.1009036.

  2. KIRKHAM, Bruce et al. Tumor necrosis factor-alpha inhibitors: An overview of adverse effects. 2022. Disponível em: https://www.uptodate.com/contents/tumor-necrosis-factor-alpha-inhibitors-an-overview-of-adverse-effects. Acesso em: 16 set. 2022.

  3. COHEN, Stanley. Janus kinase inhibitors for rheumatologic and other inflammatory disorders: Biology, principles of use, and adverse effects. 2022. Disponível em: https://www.uptodate.com/contents/janus-kinase-inhibitors-for-rheumatologic-and-other-inflammatory-disorders-biology-principles-of-use-and-adverse-effects. Acesso em: 16 set. 2022.

  4. Recomendações da Sociedade Brasileira de Reumatologia para o uso de inibidores da JAK no tratamento da artrite reumatóide: Bonfiglioli, K.R., da Mota, L.M.H., de Medeiros Ribeiro, A.C. et al. Recommendations of the Brazilian Society of Rheumatology for the use of JAK inhibitors in the management of rheumatoid arthritis. Adv Rheumatol 61, 70 (2021). https://doi.org/10.1186/s42358-021-00228-x

  5. Posicionamento da Sociedade Americana de Reumatologia sobre o alerta em bula dos inibidores da JAK: SNOW, Marcus; BEALL, Ashley; GOODMAN, Susan; FRAENKEL, Liana; GLADMAN, Dafna; ONEL, Karen; WARD, Michael; COHEN, Stan; WEINBLATT, Michael. Janus Kinase Inhibitor Boxed Warning: statement from the american college of rheumatology. updated: january 28, 2022. Disponível em: https://www.rheumatology.org/Portals/0/Files/ACR-Statement-JAK-Inhibitor-Boxed-Warning.pdf. Acesso em: 16 jul. 2022

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